quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Happy New Year



Finalmente 2010 chegou ao fim e devo confessar que pra mim foi com muito alivio que terminei o ano. Estou no Brasil desde outubro, por conta disso não tenho atualizado o blog.

Mas em janeiro eu volto pra Angola e com o gás renovado para trazer o que há de melhor nessa terra linda.

Aproveito essa época de festas para agradecer o carinho de todos que veem até aqui compartilhar comigo um pouco das curiosidades e belezas de Angola.

Apesar de estar longe, meu coração continua em Angola , tanto pela saudade do país como de uma pessoa especial.

Fico triste em acompanhar a dificuldade de muitos amigos para voltar pra casa por conta dos atrasos da Taag e fico mais triste ainda quando lei o Sr. Rui Carreira atribuir ao pai natal as dificuldades da empresa.

Também fico triste e completamente indignada em saber que os aeroviários no Brasil entrarão em greve amanhã. Usar o direito de greve dessa forma não é um ato de cidadania e sim de terrorismo.

Mas independete de todos os problemas que temos lá e cá continuo com a esperança que 2011 será um ano muito especial e cheio de sucesso para todos nós.
Desejo a todos os amigos Festas Felizes!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Kareyce


O nome dela sugere uma carícia e é assim mesmo que a gente se sente ao ouvir sua voz doce.

Kareyce é uma cantora de Camarões que eu tive a sorte e o prazer de assistir ao show que ela fez em Luanda o ano passado.

Sem sombra de dúvidas foi o melhor show que eu já assisti em Angola.

A voz encantadora, ou sorriso cativante e um jingado que simplesmente é impossível ficar parado, transformam o show dela num turbilhão de sensações difíceis de se esquecer.

Kareyce esteve em Luanda o ano passado, a convite da Alliance Francesa, após vencer um concurso de cantores em lingua francesa na África. O sucesso foi tanto que agora ela está de volta participando da II Trienal de Artes de Luanda e ainda se apresenta em Cabinda e Lubango.

Infelizmente dessa vez eu não pude conferir de perto esse espetáculo, pois continuo no Brasil.

O próximo eu não perco de jeito nenhum!!!

Quem quiser conferir um pouco desse show é só clicar aqui

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Huambo: muito mais do que marcas da guerra



Uma volta ao passado, é como a gente se sente ao entar em Huambo, prédios que desafiam as leis da física com seus pilares de sustentação completamente destrídos, casas totalmente devastadas por balas permanecem emoldurando o cenário de uma cidade que corre atrás do prejuízo e tenta se firmar como pólo turístico.



Fomos ao Huambo no feriado que antecede o aniversário da cidade. Huambo estava completamente lotada, todos os 3 hotéis, simples, mas confortáveis e bem localizados estavam lotados, pensões, guest houses e pulgueirinhos lotados. Huambo simplesmente não cabia dentro de si.



Tudo por conta das festividades do aniversário natalício de Agostinho Neto que é homenageado na praça principal da cidade em uma bela estátua onde o poeta soldado é reverenciado.



Mas a atração principal é a corrida de carros e motos que acontece todos os anos nas ruas da cidade. A população lota as ruas do circuito para acompanhar desde cedo os preparativos. Vem gente de todas as províncias, principalmente de Luanda.



Huambo é bem diferente de Luanda, o clima mais ameno, as pessoas mais cordeais e simpáticas, não tem trânsito. Até os oficiais da polícia nos tratam muito bem, perguntamos se podemos tirar fotos do quartel general do exército que está em ruinas repleto de marcas de bala nas suas paredes. A resposta foi um sorriso de aprovação seguido de um caloroso “Bom turismo”. Nunca houvi isso em Luanda.



A estrada de Luanda até Huambo está em boas condições, tirando um pequeno trecho entre Kibala e Waku Kavo que tem muitos buracos e é necessário prestar muita atenção. A viagem é longa, sem direito a posto “Graal” para um cafézinho. Mas o cenário compensa, muito verde, muitas montanhas, rios e plantações.

Ao contrário das estradas que ligam Luanda a Benguela ou Malanje, aqui o caminho inteiro é marcado por plantações, pequenas e grandes, pastos e muitas aldeiazinhas perdidas no caminho. Sinal de que Angola está mesmo a mudar e começa a se preparar para ser o novo “celeiro do mundo”.

Os arredores de Huambo é repleto de áreas com alto potêncial turístico, principalmente para quem gosta de aventura e esportes na natureza. Mas ainda falta muito para chegar lá.



Quando saímos da estrada principal os acessos são muito difícieis, as pessoas não sabem nos informar direito como chegar aos locais onde estão as principais atrações e nenhuma estrutura é encontrada.

A Serra do Moco é o ponto mais alto de Angola, mas a estrada é péssima, a ilha dos amores é descrita como um local paradisiaco, mas além de difícil acesso é longe.

Bailundo a alguns kilometros é divulgado como um dos lugares imperdíveis onde a tradição e a cultura é mantida ao lado de belezas estonteantes. O antido reino do planalto central resistiu bravamente a invasão colonial durante anos. Os antigos reis estão enterrados lá e são até hoje reverenciados em cerimônias especiais presididas pelo soba da cidade que é descendente direto do rei.

Mas a população não sabe muito bem nada do que acontece. É difícil encontrar alguém que diga onde estão as tão aclamadas belezas estonteates.



Mesmo com toda a falta de estrutura turística a viagem vale a pena, sair de Luanda e respirar ao ar puro das montanhas, conhecer pessoas simples e calorosas. Visitar o local onde a guerra foi mais sangrenta, ver de perto a história do país. A casa onde Jonas Savimbi morava, o quartel general da Unita.



Apesar de ser um passado triste, não deve ser esquecido, pelo contrário. Deve ser lembrado para que nunca mais se repita.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Kimalanga


A semana passada foi bem agitada por essas bandas. Aconteceram vários eventos culturais. Primeiro teve o festival de banda desenhada no Camões que mais uma vez foi engraçadíssimo.

O ministério da cultura organizou no Cefojor a feira do livro e da canção e ainda no final de semana a Feira Nacional de Artesanato no parque da independência, que reuniu artesãos de várias províncias.

Todos os eventos foram muito interessantes, mas o que mais me emocionou foi ver um livro exposto em uma discreta barraquinha do Cefojor.

Logo que bati os olhos na capa lembrei dele, não tinha como esquecer. Há muito tempo que queria escrever sobre esse grande homem, mas faltava oportunidade, ou palavras a altura.

Trata-se do escritor angolano Fernando Baião, leitura obrigatória para quem quer conhecer um pouco mais da sociedade angolana.

Logo que comecei a escrever o blog ele sempre passava por aqui para deixar um recado, dar uma dica ou até mesmo uma bronca, rs.

Como um pai ensinava o significado das palavras em kibundo, a origem dos termos recorrentes e com certa tristeza relembrava da beleza dessa terra antes da guerra.

Com o tempo as visitas foram acabando e soube por intermédio da casa de luanda que ele estava doente e Angola acabou por perder um grande pensador, crítico e sagaz.

Kimalanga é um daqueles livros que a gente não consegue deixar de ler enquanto não acaba. Faz uma crítica bem humorada da sociedade angolana, revela as belezas da terra e as maneirices do povo. Tudo isso de uma forma muito descomprometida, como se ele estivesse aqui ao lado contando um “causo”.

Deixo aqui a dica de leitura e a homenagem ao grande escritor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Copiou na cara dura


Estava eu fazendo algumas pesquisas na internet quando cheguei nesse blog. Fiquei indignada com a cara de pau dos autores que copiaram minha foto sem a menor cerimônia, não deram os créditos e ainda por cima colocaram um aviso legal dizendo que todas as imagens, textos e etc são de propriedade deles.

Para quem tiver dúvida basta ver o post de Porto Amboim publicado em 2008.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Um almoço no Chicala



Não sei se é o frio ou os quilinhos a mais que ganhei, mas ultimamente o tema comida e cozinha angolana têm me inspirado mais a escrever do que qualquer outra coisa.

Já falei que o angolano gosta muito de comer grelhados, aqui em qualquer esquina tem uma churrasqueirinha assando alguma coisa, principalmente peixe.

No Chicala você encontra dezenas de barraquinhas onde você pode sentar e comer um belo peixe assado no melhor estilo angolano com batata doce e banana.

Mas eu confesso que tem de ter uma certa doze de coragem e sublimar tudo que está em volta. O lugar fica a beira da praia o cheiro de peixe seco com lixo é muito forte.

Quando a gente chega logo vê uma montanha de lixo na praia. Sinceramente tive de me controlar para não dar uma de dondoca e pedir para ir embora.

Entre as barracas a coisa não é tão ruim, tem mesas e cadeiras e é razoavelmente limpo, já que se trata de chão de terra. Tem algumas moscas e é bem quente, pois as barracas estão ao ar livre.



Procuramos a barraca da Lú (81) que já haviam nos indicado como sendo excelente.

A Lú estava lá atarefada, mas nos atendeu prontamente, com muito sorriso e atenção, atendimento de primeira diga-se de passagem, muito melhor do que muito restaurante 5 estrelas da ilha. Aliás acho que o pessoal do Cais de 4 devia fazer um estágio com a Lú. Quem sabe eles aprendem alguma coisa.

A Lú mora bem em frente as barracas do Chicala, então sempre que precisa de alguma coisa da uma corrida até em casa pra pegar. É lá que ela guarda os peixes.



Logo ela aparece com uma bacia cheia pra gente escolher qual quer que ela asse. Os peixes estavam com boa aparência e segundo ela só o Calafate era fresco, o restante tinha sido congelado.

Pra mim que não entendo absolutamente nada de peixe, não fez muita diferença. Então logo perguntei qual o melhor deles e ela me indicou um Calafate, disse que era muito saboroso e que eu não ia me arrepender.

Segui o conselho dela e realmente não me arrependi.. Divino!!!

Depois que a gente escolhe o peixe ela vai temperá-lo com alho, sal, cebola, limão e caldo de peixe. Coloca na churrasqueira e ai é só esperar 20 minutinhos.



Enquanto o peixe vai pra grelha a Lú não mede esforços em nos atender bem, traz o vinho, amendoim, vinagrete e está sempre atenta para saber se precisamos de mais alguma coisa.

Ahhhhh se o pessoal do Cais de 4 fosse assim!!!

Quando o peixe chega está saborosíssimo. Confesso que não curti muito a banana com batata doce de acompanhamento, mas se tivesse um purezinho com legumes seria imbátivel.



Na Chicala você pode chegar a qualquer hora que as portas estão abertas, na verdade não tem portas, mas enfim dia, noite e madrugada tem peixe.

A Lú nos conta que lá vive cheio, principalmente a noite quando colocam a música. Ai vem gente de todo lado comer peixe no Chicala, vem cantor famoso, político e povão.



Uma verdadeira democracia gastronômica.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um típico almoço angolano



É muito comum as pessoas me perguntarem o que se come em Angola, normalmente eu lembro do Fungi e dos pratos típicos portugueses, carnes em geral servidas com muita batata e azeite.

Mas a culinária angolana também é muito rica. Segue abaixo alguns exemplos dos pratos típicos em um almoço angolano:


Muamba de repolho: uma espécie de pasta feita de amendoim e repolho para se comer com a salada.


Muteta: carne seca com umas bolinhas feita de semente de abóbora (bom demais).


Feijão de palma: feijão branco feito com óleo de palma, ou azeide de dende.


Funji: é uma espécie de pure de mandioca, mas é bem mais pesado. Pela quantidade na bandeija dá para ver que o pessoal adora.


Muamba de galinha: é uma espécie de refogado de galinha rígia ou galinha caipira se preferir.


Banana e Mandioca: aqui se come muita banana e mandioca junto com a comida.

Além disso, se faz muito peixe assado, eu sou fã do Calafate.

Come-se muita carne de porco, e carnes estufadas, ou melhor, carnes ensopadas em geral.

Vocês notaram que não tem arroz? Pois é, não tem mesmo. Parece que só nós e os chineses não vivemos sem o santo arrozinho de todo dia.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Hereros



Dando continuidade as recomendações culturais do blog, que estavam um tanto quanto paradas, eu gostaria de recomendar a exposição de fotografias Hereros do Sérgio Guerra.

As fotos ficarão expostas no múseu de ciência natural, (ao lado do largo kinaxixi), até 26/08/10. Realmente vale a pena a visita.

As fotos são belíssimas e retratam o cotidiano de um povo que vive na fronteira entre a Namíbia e Angola. São pastores nômades com livre acesso entre os dois países.

Até hoje mantêm preservadas suas tradições, algumas para nós, ditos civilizados, podem parecer verdadeiros atos de tortura. Como por exemplo a tradição de fazer a circuncisão masculina sem nenhuma anestesia ou então arrancar os dois dentes de baixo das crianças a seco também.

Mas quem somos nós para dizer o que é certo ou errado? Certo mesmo é que na exposição vocês poderam conhecer um pouco mais desse universo que é tão desconhecido dos próprios angolanos quem dirá dos expatriados que vivem em suas confortáveis bolhas.

A melhor parte da exposição infelizmente só quem esteve na abertura viu. O Sergio Guerra, trouxe para a abertura alguns integrantes desses povos, entre eles um soba que não se fez de rogado e de cima de seus oitenta e tantos anos, bateu o cajado e cobrou das autoridades, da população e dos meios de comunicação que ajudem a manter a tradição.

Disse que seu povo passa fome, não tem hospital, não tem escolas e estão esquecidos. Clamou para que o governo olhe por eles, afinal eles são a última herança de uma tradição a muito esquecida pelas grandes cidades.

Ele falou na lingua dele, que agora já não me lembro qual é e foi traduzido por outro integrante mais jovem da tribo.

Ao final do discurso, deu gosto ver todos os presentes aplaudirem, agora resta saber o que o governo vai fazer de concreto para ajudar a manter a cultura e a tradição desse povo e ao mesmo tempo amenizar as dificuldades.

sábado, 31 de julho de 2010

A saga de jantar num domingo à noite




Depois de passar muito tempo fora de Luanda, a gente acaba se esquecendo das limitações de morar aqui.

Fui ao supermercado comprar algumas coisinhas para o café da manhã, juro que só comprei o básico: leite desnatado, pão integral, peito de peru e filadelphia resultado da brincadeira: US$50.

Depois da facada eu lembrei porque eu engordei 2 kg nos últimos 2 anos. É economicamente inviável fazer regime num país onde um pé de alface custa mais de US$ 10.

Nem vou falar do trânsito porque isso é lugar comum, mas para piorar o que já é terrível teve reunião da CPLP essa semana...

Domingo a noite, nada mais banal do que sair para jantar, né? Bom isso não é uma tarefa fácil como eu descobri, ainda mais se já são 18h e você ainda não almoçou.
Como no Talatona não tem nenhum restaurante gostosinho o jeito foi ir para a cidade o que significa trânsito em pleno domingo à noite.

Com o estomago nas costas fui direto para o meu restaurante preferido em Luanda o Le Petit Bistrô, um charmoso restaurante francês. Decepção o bistrô estava fechado.

Então resolvi experimentar o Naquele Lugar, outro charmoso restaurante português aos pés da fortaleza de São Miguel, muito recomendado por amigos.

Por ser uma área militar eu tive de passar por um posto de comando do exército que decide se você pode ou não subir a rua. Essa noite o senhor oficial estava de bom humor e liberou a passagem não sem antes solicitar um “final de semana”, ou seja, uma caixinha.

Com cara de desentendida segui caminho. FECHADO...

Ok, sem desespero! Como sou muito eclética no quesito gastronomia, segui em frente até o restaurante chinês. Esse eu já conhecia e é excelente também, nem quero pensar como a cozinha funciona isso não importa, o que importa é que a comida é boa.

O restaurante é todo decorado com temas chineses e as garçonetes são típicas chinesas, tão típicas que nem falam português.

Oba! Tem gente lá dentro, bom sinal... Doce ilusão, o restaurante estava alugado para uma festa particular...

Confesso que a irritação começou a tomar conta de mim. No Cais de 4 que com certeza está aberto eu me recuso a ir. Depois de ser muito mal atendida, ter pedido mais de 5 pratos diferentes e escutar que não havia para finalmente achar alguma coisa no cardápio que veio gelada e horrível eu prometi que nunca mais colocaria os pés lá.

Tem um italiano novo próximo ao chinês, quem sabe.... tchan, tchan, tchan: FEHADO.
Já começo a pensar no macarrão que está no armário lá de casa, quando passo em frente ao japonês o único que eu tinha certeza que estava fechado e adivinhem só: ABERTO.

Meu estomago que já estava nas costas deu até uma pirueta de alegria. Ambiente agradável, atendimento impecável, comida excelente (melhor do que muitos japoneses brasileiros), só o que não foi agradável foi à conta... SALGADA!

Mas jantar bem em pleno domingo a noite de Luanda vale cada centavo!

Foto retirada do site Luanda Night Life, melhor site de Angola.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O Sagrado e o Profano



No último post eu disse que em Angola não é feriado no corpus christy. Enquanto no Brasil todo mundo faz as malas para viajar e aproveitar o feriadão, participar das festas, com muita comida e tapetes de flores que enfeitam e alegram as cidades em comemoração ao dia santo, em Angola todo mundo trabalha.



No domingo, quando a Av, Paulista vira palco da Parada Gay, atraindo milhares de turistas e movimentando a economia da cidade, em Angola se celebra o Corpo de Deus. Uma enorme procissão cobriu de fiéis as ruas do centro da cidade. Com a participação de mais de 3 mil pessoas, segundo estimativas da igreja. As beatas vestidas com seus panos santos, terço em uma mão e radinho de pilha na outra para acompanhar a reza lá do fundo da fila.



Cantos religiosos, orações e muita fé para subir a ladeira embaixo daquele sol de cacimbo, mas quente que só.



Acompanho um trecho da procissão com minha câmera fotográfica em mãos, ninguém reclama, ninguém diz que não posso tirar fotos. Na volta encontro alguns oficias da polícia que estavam de muito bom humor, coisa rara por essas bandas.



Um motoqueiro tenta passar pelo bloqueio, os oficiais o impedem, ele dá a volta e passa pelo outro lado. O oficial fica ali imóvel apenas olhando. A gente brinca com ele e diz que são muito folgados esses kambas, e ele ri e responde, hoje pode, hoje ele está perdoado! Dia do corpo de deus, a oração ecoa pelas ruas do centro e amolece o coração do sr. Oficial.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dia da criança



Ontem dia 1 de junho foi feriado aqui em Angola, dia da criança. Curiosamente o dia da criança é feriado, no entanto o corpus christi não. Como já disse antes, Angola não se explica…

Eu sempre falo que as crianças angolanas são lindas e pouco assistidas, praticamente não há lugares para elas brincarem, praças, playgrounds ou atividades culturais…

Elas são muito esquecidas e não é difícil ver crianças brincando em montes de lixo.

Uma cena triste!



Mas uma coisa não se pode negar, como são felizes essas crianças!!!



No fim de semana fomos a Cabo Ledo, a idéia era acampar, mas a praia estava fechada. O exército estava fazendo exercícios na praia. Bem que eles podiam ter escolhido um lugarzinho mais feinho para fazer exercícios militares.



O jeito foi ir até Cabo de São Brás, uma praia um pouco mais a frente e tão linda quanto Cabo Ledo, só que mais deserta ainda. Lá só tem uma aldeia de pescadores, nada de pousadas ou restaurantes.



No caminho paramos na aldeia de Cabo Ledo para comprar carvão e um grupo de meninas se aproximou do carro. Elas riam tanto que era impossível ficar indiferente. Logo que eu puxei papo elas começaram a cantar e dançar, todas muito bem ensaiadinhas. Não, não era nenhum teatrinho para arrancar dinheiro de turistas, a única coisa que me pediram foi para tirar os óculos, pq segundo elas, eu era muito bonita para ficar escondida (hehehehe).



Assim são as crianças de Angola, alegres e festeiras o tempo todo…

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Angola não se explica



Hoje eu li uma frase, no Aerograma, em meio a um lindo texto de quem começa a se preparar para partir: “Angola não se explica, sente-se e é talvez por isso que não se consegue traçar fronteiras claras entre o que amamos e detestamos nela.”
Logo que li, comecei a rir, porque realmente é tão difícil explicar para quem não está aqui as coisas que vemos no dia a dia.

Quem pode explicar por que um bando de pinguins enfeitam o largo que fica aqui em frente ao escritório? Eles simplesmente estão lá para quem quiser decifrar o enigma..

Como não desatar a rir ao ver um carro amarelo ovo descendo a rua com um cidadão vestido todo de amarelo ovo na condução? De longe os óculos amarelo ovo chamam a atenção, seguido pela camisa, amarelo ovo, a gravata, amarelo ovo e o blaser também amarelo ovo esvoaçando no banco de trás. Não é nenhum pouco difícil imaginar de que cor são a calça e o sapato… rs

Ahhh como me lamento de não ter uma câmera nessas horas…

No rádio a estação de notícias entrevista os vendedores do Roque Santeiro em seus últimos dias de labuta no local. Todos inconformadíssimos em terem de mudar de mercado.

As entrevistas são todas tão intrigantes (não consigo achar adjetivo melho,rs), que

o trânsito matinal fica até mais leve e nem sinto a hora passar.

O programa chama-se taxi amarelo (kkk tinha de ser amarelo, rs).

As perguntas e as respostas são muito inusitadas, como por exemplo:

Entrevistador: O senhor está mesmo aqui no Roque a quanto tempo?

Vendedor: Ah estou mesmo aqui… já não me lembro… silêncio… Hum estou mesmo aqui desde que aqui cheguei até hoje…

Em seguida ele vai até outra banca e pergunta a uma senhora:

Entrevistador: Estou vendo que a senhora está mesmo gordinha, foi o Roque que te deixou assim?

Senhora gordinha: Não entendo

Entrevistador: Foi no Roque que a senhora engordou?

Senhora gordinha: Nãooooo já chegeui ao roque com esse corpo mesmo…

Agora o entrevistador vai atrás dos homens que matam os animais para vender fresco no roque (porcos e cabritos são os mais usuais).

Entrevistador: Os meninos já não estào mais aqui, mas temos uma jovem, vamos mesmo entrevistá-la. Jovem, como se faz para matar os animais?

Jovem: sim, aqui mata os animais, paga-se e depois mata.

Entrevistador: Mas como se dá a morte?

Jovem: é mesmo assim paga-se KZ 1500 e mata a cabra e paga-se KZ1500 e mata o porco…

É por essas e por outras que eu concordo plenamente com Afonso Loureiro, Angola não se explica!

quinta-feira, 13 de maio de 2010

O fim de um ícone



Durante décadas o Roque Santeiro recebeu a alcunha de maior mercado a céu aberto do mundo. São centenas de barracas espalhadas desordenadamente em meio ao caos e ao lixo, condições sanitárias nulas. Mas agora o mercado mais famoso do mundo vai acabar. Finalmente o governo vai transferir todos os vendedores para a Panguila, numa área organizada, com restaurantes, bancos e o mais importante condições sanitárias adequadas.

Essa transferência faz parte do programa do governo de requalificação do Sambizanga que vai transformar o perigoso e violento bairro num moderno distrito comercial e residencial, com muitos prédios modernos e caríssimos.

Bom, mas enquanto o futuro não chega e o mercado não muda, aproveitei o domingo passado para conhecer de perto o local.

Andando pelo mercado, um verdadeiro labirinto, não é difícil acreditar no ditado que diz “Se não tem no Roque é porque ainda não inventaram”.

Confesso que a primeira vez que vi o Roque tive medo de percorrer suas estreitas vielas, mas depois de andar alguns metros logo a gente se sente na 25 de março, mais suja, mais desorganizada e mais super lotada. É como se todos os camelôs de SP se juntassem no mesmo espaço de chão batido.

Calor insuportável, cheiro ruim e muita curiosidade. Não sei quem estava mais curioso, nós que passeávamos pelas fileiras intermináveis de barraquinhas ou os vendedores que nos seguiam com os olhos.

Realmente tem de tudo no Roque e por incrível que possa parecer, existe uma certa organização em meio a balburdia vista de cima. Não sei precisar ao certo qual a ordem, mas ao andar pelas “sessões” é possível identificar claramente seus segmentos, como num supermercado:

Beleza – com direito a fazer a sobrancelha ali mesmo no meio das barraquinhas, cabelos e mais cabelos, brasileiros, espalhados por todos os lados. Querendo é só párar ali mesmo e trançá-los.

Eletrodomésticos made in china, todos os tipos e qualidades.

Celulares: compra, vende, troca, acessórios, consertos e o que mais você desejar.

Alimentos de todos os tipos, desde enlatados amassados e enferrujados até frango e carne deitados a céu aberto sobre o tabuleiro, sem nenhuma refrigeração e claro muitas moscas.

foto by Gustav Nilsson

Vestuário feminino, masculino, infantil, cama, mesa, banho, sapatos e o que mais você precisar no Roque tem!

Reformando a casa? Materiais de construção aqui tem também. Ou precisando mobiliar? É só seguir em frente e lá estão camas, mesas, armários, sofás e até geladeiras e fogões.

Mas a fama de ter de tudo a preço baixo não se aplica a expatriados que como nós trazíamos na pele branca o $$$ estampado na testa.

Parei numa barraquinha onde havia uma batedeira a venda, sonho de consumo adiado a meses, pois aqui os preços são impraticáveis. Na caixa o valor de 1800 kwanzas, o equivalente a R$ 36 reais. Mas quando perguntei a senhora quanto custava ela logo disse KZ3.000 ou seja, R$ 60.

Chora daqui, chora dali, mostro a ela o preço da caixa, ela desconversa diz que não pode abaixar. Uma angolana se aproxima e não pergunta nada. Eu digo que ela quer comprar a batedeira e pergunto quanto custa pra ela. A moça ri e diz que é Kz 3.000.
Vou embora e peço pra ela pensar no preço que eu volto.

Outra barraca e uma caixa térmica é nosso alvo agora. De novo o preço vai as alturas. Argumento que no supermercado é mais barato a moça diz que não, que a que tem lá é outra de uma marca inferior.

Já estou quase desistindo de comprar qualquer coisa quando vejo uma bacia de alumínio, surpresa, surpresa está de graça cerca de R$ 4,00. Agora sim o Roque mostra a sua cara.

Volto na batedeira, mais um choro daqui um chora dali e coloco na mesa KZ 2500 pra levar agora. Quer ou não quer… A senhora chora mais um pouco, diz que assim só ganha Kz 100. Eu argumento que no supremercado é mais barato e ela aceita com cara de coitadinha.

Resultado final:

1 batedeira Kz 2.500
1 caixa térmica Kz 2.800
1 bacia kz 200

Conhecer os últimos dias do Roque Santeiro, não tem preço!

PS: A batedera, made in china já quebrou!

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Glorioso e suas Histórias


Aeroporto 4 de Fevereiro antes da reforma (foto by site: cpires)

Desde que cheguei há dois anos atrás o aeroporto internacional 4 de fevereiro, batizado carinhosamente de “Glorioso” pelo Diário de África, já rendeu muitas histórias, algumas intrigantes, outras irritantes, mas sem dúvida nenhuma muitas curiosas e engraçadas.


Aeroporto 4 de Fevereiro depois da reforma (foto by site:airportworld)


Hoje sem dúvida nenhuma o aeroporto funciona como um verdadeiro aeroporto internacional, a maioria dos vôos chegam e saem na hora.

Não existe mais aquela fila horrível para pegar o formulário da vilância sanitária, a emigração funciona rapidamente, existem carrinhos para pegar as malas e ninguém fica do lado das suas malas querendo te arrancar uma gasosa, seja ela em kwanzas, dólares e reais, aqui os gatunos são bem ecléticos,rs.


(foto by site jorna de angola)

Mas essas são coisas do passado, agora temos até taxis de verdade nos esperando do lado de fora. O ar condicionado funciona a todo vapor e a lanchonete está lá 24h por dia para matar a fome de quem chega ou quem vai.

Ah, quase ia me esquecendo de falar da reforma, o lugar ficou realmente bonito, mármores e granitos, iluminação, cadeiras e até internet… Sim, sim, sim…. Agora o aeroporto está nos trinques!


(foto by site Angop)

Mas uma coisa não muda e creio que nunca vai mudar : as curiosas histórias do glorioso!

São coisas que só acontecem por esses lados mesmo, como por exemplo na minha última ida ao Brasil. Estava eu bonitinha na fila para entrar na fila da emigração quando uma senhorinha angolana com carinha de vó me aborda.

Senhorinha: A senhora não me faz um favor?
Eu: Não sei, depende!
Senhorinha: risinho de quem sabe que vai pedir algo difícil.
Eu: O que a senhora precisa, já estava eu imaginando que ela me pediria para levar alguma mala que havia estrapulado o limite de peso. Para isso já tinha a resposta na ponta da língua (já despachei). Mas não… nada de mala…
Senhorinha: Não podes levar os passaportes dos meus filhos para São Paulo
Eu (com aquela cara de atônita de quem foi pega de surpresa e demora pra processar a informação): Como?!
Senhorinha: Os passaportes deles caducaram e agora eu tenho de madar os novos.
Eu (já refeita do susto): A senhora me desculpe, mas eu não posso fazer isso. A senhora tinha de ter pedido a renovação na embaixada lá do Brasil.
Senhorinha: Mas é que lá deu problema, faltou documento…
Eu (agora já dona da situação): Ah me desculpe, mas não posso não. Aliás ninguém pode andar com passaporte de outro. Se a polícia federal me pega eu sou presa. Por que a senhora não manda por DHL?
Senhorinha: Demora muito.
Eu: Ah não demora não, são só 15 dias e chega direitinho.
Senhorinha: com sorrisinho de desaprovação sai andando em busca de outra vítima…

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Trânsito em Luanda



Essa charge foi publicada no Jornal de Angola, um verdadeiro retrato do trânsito em Luanda, rs

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Super bock


Uma mensagem chega na minha caixa de e-mails e quase vai parar na lixeira. Trata-se um mecanismo de busca do google, (para quem não sabe é possível programar o google para te avisar sempre que uma determinada palavra for postada em qualquer parde da grande rede).

A mensagem quase vai parar no lixo, mas no último estante meus olhos encontram a palavra “awards” no emaranhado de letras e abro a mensagem para me certificar.

Pronto lá estava a confirmação.

É isso mesmo, o menina de angola ganhou o super bock awards na categoria Angola.
Confesso que fiquei muito orgulhosa e agradecida por todos que votaram em mim. Por ser um prêmio português sinceramente não imaginei que poderia ganhar, afinal de contas nem tinha para quem pedir votos.

Sou brasileira e antes que alguém diga que estava ilegal no concurso, vou logo avisando que tenho nacionalidade portuguesa, com passaporte e BI. Portanto, legítima concorrente. Mas enfim, como meus amigos não consiguiram votar por não serem cidadãos portugueses, realmente não imaginei que chegaria a final.

Aqui vai meu muito obrigada aos blogueiros que votaram em mim, ao juri e como não poderia deixar de ser a Maria que me convidou a participar do concurso.

Para quem quiser conhecer os outros finalistas é só visitar o site da super bock

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Um fantasma para qualquer expatriado!



Quando uma pessoa qualquer decide enfrentar um desafio profissional longe de casa logo ela é tomada por uma certa euforia, depois vem o medo e por último a curiosidade.

Primeiro a gente imagina todas as milhões de oportunidades, nova cultura, desafio profissional, aprendizado, lugares novos e claro crescimento em todos os sentido.
Depois bate aquele medo clássico, e se eu não me adaptar, e se não gostarem de mim e se, e se, e se…

Quando a gente chega ao destino final, tudo é novidade, umas coisas são boas outras não e quando a gente vê, pronto já está completamente adaptado ou de malas prontas pra voltar pra casa.

Mas tem um medo que é comum a todo mundo e que aflora com muito mais força quando se está longe de casa. E se alguma coisa acontecer com a minha família e eu não estiver por perto?

A sensação de impotência é imensa, dúvidas, tristeza e até mesmo um pouco de sentimento de culpa.

Nos últimos meses infelizmente eu tenho passado por isso, minha mãe tem enfrentado sérios problemas de saúde que me levaram de volta pra casa e a deixar o blog assim meio que abandonado.

Não foram dias nada fáceis. Mas agora ela está melhor, continua no hospital, mas está se recuperando.

Depois que os médicos garantiram que ela estava fora de perigo e que iria para o quarto (já está há mais de 1 mês na UTI), eu resolvi voltar para Angola.

Acompanhar de longe a recuperação não é nada fácil. E semana a semana a alta para o quarto não chega. Cada semana uma novidade no quadro dela adia a alta da UTI e eu aqui de longe sem poder fazer nada. Se bem que verdade seja dita, quando estava perto também não podia fazer nada.

Para o expatriado nem tudo são flores, ao contrário do que pensam muitos angolanos, e conviver com a doença a distância é um preço bem alto a se pagar…

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Torcida Angolana


Show pirotécnico na festa de encerramento.

Que o CAN acabou todo mundo já sabe.

Que o Egito foi o grande campeão, com três títulos consecutivos e sete ao todo, todo mundo já sabe.

Que os estádios ficaram vazios em vários jogos, também não é novidade.

Mas, como a torcida angolana é animada, colorida e excêntrica acho que ninguém falou ainda.

Então, seguem algumas fotinhos do jogo Angola e Malawi para ilustrar essa torcida tão bonita.


Torcida organizada chegando ao estádio 11 de novembro em Luanda


Estádio começando a encher antes do jogo Angola X Malawi


Torcedora com cabelos personalizados


Torcedores fantasiados de bandeira.