quinta-feira, 31 de julho de 2008

Um dia de reticências...



Ando calada, mas continuo por aqui observando e pensando, pensando e observando. Desde que comecei a escrever o blog tudo é motivo para um novo post, mas na hora de escrever fica a dúvida.

Será que isso realmente é interessante? Será que falar sobre esse ou aquele tema não pode gerar algum tipo de represália?

E assim, os dias vão passando e o blog continua desatualizado... Não tenho muita certeza sobre o que falar...

Eleições? O assunto da moda? Vale à pena? Vale à pena fazer propaganda do partido que está no poder, planejando um mega comício para o próximo sábado e espera reunir mais de 3 milhões de pessoas? Pra que? Enquanto eles gastam milhões de dólares e colocam o exército na rua para garantir as rotas de fuga dos poderosos, a maioria esmagadora da população continua sem segurança, sem água, sem luz, sem assistência médica, sem saneamento básico, sem escola, sem comida...

Ou quem sabe falar do principal partido de oposição, de quem sempre se escuta que por baixo dos panos haverá uma nova guerra?

Não, pra que? Definitivamente não vale a pena colocar mais lenha nessa fogueira!

Quem sabe eu deva fazer uma nova contagem dos prédios que estão sendo demolidos, dos prédios que estão sendo construídos? Mas de novo? Todo mundo sabe que obras faraônicas estão sendo construídas dia após dia e que por trás de cada obra tem muito, mas muito dinheiro sendo desviado...

Que coisa chata, a poeira já está mesmo por toda a cidade, melhor deixar esse assunto embaixo dela também...

Talvez eu fale do último ataque sofrido por uma expatriada, (mais uma vez, mulher, branca e sozinha), dessa vez sem sucesso, graças a Deus, mas enfim... Mais um? Já falei disso não foi. Nada mudou! Talvez seja melhor não falar de novo para não criar pânico...

Ahhh, já sei! Sempre tem as crianças para falar... Como são lindas! Felizes e se divertem com tão pouco...



É isso, vou falar das crianças...

Seus olhos e sorrisos são sempre tão cheios de esperanças...

Mas quem está olhando por elas?

Acho que hoje é melhor não falar de nada e continuar aqui apenas observando e pensando, pensando e observando...

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Com outros olhos



Quando a gente pára e olha para Luanda com olhos de quem está de fora dessa loucura, começa a achar os encantos escondidos atrás do caos que essa cidade se tornou. Hoje decidi que não iria entrar na paranóia, sai de casa tarde, peguei um belo trânsito para chegar no trabalho, mas ao contrário de todos os dias eu fui o trajeto todo observando a cidade, como se eu não fosse mais uma coadjuvante na história e sim uma expectadora.



Vi crianças sem brinquedo, animadas que transformam pneus velhos em velozes cavalos que voam pela sua imaginação mesmo no meio da correria discreta da avenida. Vi mulheres de tribos vindas de províncias longíncuas com as suas argolas nas pernas e braços dando um brilho todo especial ao trabalho do dia a dia. Vi senhoras enroladas em seus panos para se proteger do frio. Vi ruas cheias de gente que vão e vem e muitas que ficam paradas a espera que o tempo passe. Vi o descaso, mas vi a alegria também de homens dançando kuduru logo pela manhã.



Percebi que não adianta xingar e praguejar o motorista ao lado, isso de nada adianta. O trânsito não passa mais rápido e a única que perde sou eu com o estresse. Hoje eu percebi que não adianta recriminar e não fazer nada para mudar. Se eu não posso mudar eu vou pelo menos procurar as belezas escondidas da cidade.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Praia das Tartarugas



Domingo ensolarado é convite certo para a praia, nem mesmo o cacimbo, que deixa os angolanos tremendo de frio, intimida nos brasileiros. Para nós o cacimbo é só uma brisinha gostosa que alivia o sol forte africano. Saímos de casa muito animados para conhecer uma praia nova chamada de Praia das Tartarugas. Essa praia fica bem embaixo do Miradouro da Lua, se a vista de cima é linda imaginamos que de baixo seria estonteante...

Descemos a estradinha de terra sinalizada por uma minúscula placa e cruzamos uma porteira (aberta), que dizia ser ali um local de proteção das tartarugas marinhas, o que nos deixou mais animados ainda, com a doce ilusão de encontrar algo semelhante ao Projeto Tamar realizado, com muita seriedade, no Brasil.

Ao terminarmos a descida não havia mais nenhum sinal de preservação de tartarugas, havia sim uma bela casa e mais a frente vários carros parados na sombra onde animados estrangeiros preparavam um churrasco.



Paramos o carro ao lado e nos preparamos animadamente para tirar muitas e muitas fotos, mas eis que então uma pit Bull gringa que mesmo morando em Angola, e habitando um lugar que se diz ser de preservação de tartarugas marinhas, não fala uma palavra em português, nos interpelou de forma muito meiga: “This is a privety propriety, unfortunetely you can´t stay here!”

Um olhou para a cara do outro sem saber o que fazer, sabe cara de cachorro caído da mudança? Pois é, essa mesma... Depois de argumentarmos que não havia nenhuma placa dizendo que não podíamos entrar, que ali era uma praia, que praias são públicas e blá, blá, blá. E a pit Bull parecendo um disco furado repetindo: This is a privety propriety, This is a privety propriety, This is a privety propriety. Um outro gringo que arranhava o português disse, ok podem tirar fotos da praia.



E lá fomos nós, tirar fotos, mas sem nenhum encanto, confesso que não consegui aproveitar nenhum pouco a beleza do lugar a única coisa que passava pela minha cabeça era como alguém pode dizer que a praia é propriedade particular? E cadê o tal de programa de preservação de tartarugas marinhas? Havia até uma carcaça de tartaruga jogada na areia numa demonstração clara de que respeito por tartarugas marinhas ali passa longe!

Nessas horas eu vejo como o Brasil está anos luz a frente de Angola no que diz respeito a educação ambiental. O Projeto Tamar, que é realizado em diversas praias brasileiras, tem conseguido resultados excelentes na preservação das bichinhas e principalmente no que diz respeito a educação ambiental das comunidades locais e dos turistas. Em qualquer base do projeto que você for com certeza vai ser bem recebido, vai receber informações sobre a importância do programa, sobre os hábitos das tartarugas e principalmente da importância de se preservar a vida marinha para o futuro das próximas gerações..



Acabamos ficando sem praia, sem tartarugas e com uma tremenda frustração, mas como o sol ainda estava forte o jeito foi botar a viola no saco e partir para a outra praia...

domingo, 13 de julho de 2008

O silêncio



Violência é um tema que eu sempre evitei comentar por aqui, afinal de contas ela existe em qualquer lugar do mundo e em Luanda não é diferente. Aliás São Paulo é muito, mas muito mais violenta do que Luanda sem dúvida nenhuma. Só que em Luanda, apesar de muita gente dizer o contrário, a violência também existe e eu não consigo entender por que se faz tanta questão de esconder isso.

Essa semana fiquei sabendo de dois crimes ediondos cometidos contra brasileiras, a minha indignação não é por elas serem mulheres, jovens, brancas e brasileiras. A minha indignação é contra a violência e a forma como essa violência está sendo abafada.

Duas mulheres são violentadas e as empresas em que elas trabalham providenciam o seu retorno o mais rápido possível e fazem de tudo para manter tudo no maior sigilo.

Como assim sigilo? Como assim não causar pânico? Como assim manter a identidade da agredida em segredo?

Cadê a polícia para investigar o caso?
Cadê a imprensa para alertar do perigo a sociedade?
Cadê a sociedade para cobrar a justiça da polícia?
Cadê o Itamaraty para cobrar a segurança dos seus cidadãos expatriados?
E cadê a comunidade brasileira que não se uni contra essa violência e permite que ela seja simplesmente abafada?

Sempre achei que a sociedade Angolana era machista, mas não posso acreditar que a violência contra a mulher seja aceita com tanta naturalidade.

Também me preocupa o fato de em duas semanas duas brasileiras terem sofrido a mesma agressão. Será que nos tornamos presas fáceis em Luanda?

Simplesmente não posso ficar calada diante de um absurdo como esses. Não posso ouvir das pessoas, "não comente com ninguém", lógico que vou comentar e vou comentar com todo mundo, as pessoas têm de saber para poder se previnir.

Não podemos fazer coro com os que calam e fingem que nada está acontecendo. Alguém tem de tomar uma atitude para que essas agressões não se repitam e não só com as brasileiras, mas sim com todas as mulheres, sejam elas brancas, amarelas ou negras!

sábado, 12 de julho de 2008

A despedida



Eu queria ter poesia nos dedos para escrever um post a altura do que eu senti quando fiquei sabendo que a minha aliança honesta em Luanda está partindo. Gostaria muito de poder expressar em palavras toda a alegria que eu senti nesses últimos meses em poder compartilhar com ele as dificuldades, curiosidades e claro tudo o que tem de bom em Luanda.

Mas infelizmente não sei como fazer isso. Eu não sou poeta, não sei fazer graça com as palavras eu só sei escrever o que eu vejo. E como sentimentos não se explicam com palavras fica dificil explicar toda a gratidão, respeito, carinho, amizade e alegria que eu sinto por poder contar com alguém tão especial quanto você.

A primeira vez que eu escrevi sobre a minha aliança honesta, todo mundo pensou que eu estivesse falando de algum namoradinho. As pessoas não conseguiam entender que eu estava falando de uma amizade sincera e desinteressada. Uma amizade que ajudou a deixar meus dias mais fáceis, que fez com que eu não me sentisse tão sozinha, tão perdida, tão peixe fora d´água.

Infelizmente ele não aguentou, jogou a toalha. É difícil, eu sei. Além do mais que as condições em que ele vive aqui são muito mais difíceis do que as minhas. Isso é um grande problema para muitos brasileiros que chegam em Luanda. Ficar sem carro, dividir uma casa com muitas pessoas e em alguns casos dividir até o quarto. Privacidade zero!

Se eu já acho ruim que todo mundo sabe tudo da minha vida, imagine ele...

Mas eu não quero falar de coisas ruins, quero é dizer MUITO OBRIGADA por você ter feito parte da minha história em Luanda. E você sabe que essa amizade não termina aqui.

Não vou dizer adeus, mas sim até breve meu amigo! Vai ser feliz!

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Mussulo



Ilha é um pedaço de terra cercado de água por todos os lados certo? Errado! Aqui em Angola, basta ter um monte de água em dois lados para virar uma ilha...

Mussulo é uma ilha que não é bem uma ilha. Apesar do caminho mais fácil e mais usado para se chegar ser o barco a ilha do Mussulo é um braço de mar. Não sei porque chamam de ilha, mas enfim a ilha de Luanda também não é uma ilha...



Lá é o point das Patricinhas e Mauricinhos aqui de Angola. A praia é bonita, mas não se compara as outras praias que tem por aqui. O lugar é cheio de casões, bares com espreguiçadeiras na areia e muita gente.



Mussulo, apesar da aurea fashion que se dá ao lugar, também tem a poesia da simplicidade de Angola. Não é difícil encontrar mulheres vendendo panos com sua roupas coloridas e aquele sorriso tão característico dos angolanos. Pescadores e crianças correndo pelas areias completam o cenário bucólico da ilha. E claro não poderia terminar o dia sem o por-do-sol.



Simplesmente espetacular...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Indo para o Buraco



No Brasil quando a gente fala que alguém foi para o Buraco é porque o cara realmente se deu mal. Já aqui em Angola ir para o Buraco pode ser uma experiência muito boa. O Buraco em questão é o nome de uma praia muito próxima de Luanda e totalmente selvagem.



De um lado o mar aberto, com direito até a avistar baleias, e do outro uma baia com águas cristalinas, areia branquinha, siris, pássaros e a tranqüilidade que só quem tem a consciência tranqüila é capaz de desfrutar...



Como uma imagem vale mais do que 1.000 palavras, vou parar por aqui e deixar que as fotos falem tudo o que eu não consigo expressar com palavras...

terça-feira, 1 de julho de 2008

Cabelos...



As angolanas são apaixonadas por cabelos, as que têm melhores condições chegam a gastar mais de 1000 dólares para fazer um belo megahair e ficar com as madeixas soltas ao vento...

A principal fonte de cabelos é o Brasil, aqui se importa cabelos a peso de ouro. Confesso que a primeira vez que ouvi sobre o mercado negro de cabelos em Luanda achei engraçado e pensei que fosse brincadeira.

Mas o negócio é sério mesmo. Tão sério que outro dia passei por uma situação muito inusitada, rs. Estava eu de bobeira na recepção quando uma das meninas olha pra mim e diz:

Ela: ohhh menina, você não me dá seu cabelo?
Eu: O que?
Ela: seu cabelo, me dá?
Eu: Como assim, meu cabelo? Eu vou ficar careca?
Ela: Ahhh logo cresce!
Eu: Não posso ficar careca, né!!!
Ela: Corta curtinho!
Eu: Oh, vamos fazer o seguinte? Meu cabelo esta abaixo dos ombros, quando chegar no meio das costas eu corto na altura dos ombros e te dou. Tá bom?
Ela: Ah, não... Muito curto não vai dar nem para trançar!
Eu: (mostrando com as mãos o tanto de cabelo), mas tem muito cabelo, olha só... vai dar sim... Se você quiser eu te dou quando crescer.
Ela: Faz cara de decepcionada... Seu cabelo é tão grosso...
Eu: É grosso e tá caindo um monte desde que eu cheguei aqui.
Ela: Ah é a água. A água daqui estraga o cabelo.
Eu: Sorrisinho amarelo... é deve ser...

Sai de lá com peso na consciência, afinal de contas cabelo cresce, né?! Não me custa nada mudar o visual e fazer uma doação de cabelos. Talvez eu esteja sendo egoísta e me apegando demais a vaidades futeis.

Mas, mas, mas... EU ADORO MEUS CABELOS!!!