terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Festas Felizes



A poucos dias do natal em Luanda só se fala do Can. Que o Pai Natal riscou grande parte da África de seu caderninho de entregas todo mundo sabe, mas não esperava ver tanto dinheiro sendo jogado fora por conta de um campeonato de futebol.

Nas ruas a gente até vê uma certa movimentação natalina, as zungueiras agora além de frutas vendem brinquedos, os vendedores de fárol, na cidade que não tem fárol, vendem luzinhas chinesas, mesmo sabendo que a energia vai a todo momento…

Quando se anda pelo meio das musseques a gente vê grandes barracas de brinquedos usados sendo vendidos, as crianças olham de rabo de olho, mas poucas delas vão garantir a sua prenda.

Aliás ser criança por aqui não é nada fácil, nem pra ricos nem pra pobres. Angola simplesmente não tem nenhuma opção de lazer para os pequeninos, as praças que foram criadas no meio da Samba não tem nenhum playground, só equipamentos para os marmanjos se exercitarem.

Não existem parques nem pracinhas infantis, o jeito mesmo é exercitar a imaginação, felizmente isso elas ainda têm para dar e vender.

Enquanto o Pai Natal não chega o jeito é brincar de faz de conta.


Brincar de boneca com a irmã mais nova…


Brincar de bóia com o tronco de árvore…


Brincar de carrinho com as latinhas…


Brincar de Carrão com o pneu velho…

Eu fico me perguntando quantos milhões de dólares não custaram as campanhas do Can que passam na TV, as bolas e palancas do Can que foram espalhadas pela cidade, isso é claro sem falar dos placares eletrônicos com a contagem regressiva. Tanto luxo pra que??? Se metade das crianças do país não vão ganhar nada no natal.

As obras que estão sendo feitas em virtudo do Can, até dá pra aceitar, afinal quando o Can acabar todo mundo vai se beneficiar delas (reforma do aeroporto 4 de fevereiro, mais do que na hora, ampliação da Rocha Pinto, não precisa nem dizer o quanto é bem vinda, e claro os estádios…). Agora o disperdício em propaganda e enfeites do Can, a isso já é demais pra qualquer cristão que olhe em volta…

Porque em vez de Palancas e bolas gigantes eles não fizeram miniaturas e deram de presente para as crianças no Natal? A propaganta estava feita do mesmo jeito e com certeza com muito mais eficiência…

Outro dia uma expatriada me disse que Angola não é um país para crianças, começo a achar que ela está mesmo cheia de razão.

Se não se pensa nas crianças como esperar que os adultos do futuro mudem alguma coisa?

Só me resta desejar Festas Felizes e um 2010 mais que especial a todas as crianças angolanas!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Campanha: Doe um helicóptero para o Zédu


Desenho do site: http://colorirdesenhos.com

Desde que eu cheguei em Luanda uma pergunta não me sai da cabeça. Por que o presidente e seus ministros não andam de helicóptero? É tão mais rápido, fácil, seguro e atrapalha tão pouco todos os milhões de pobres mortais que dependem de carros, ônibus e candongas para se locomover pela cidade.

E não venham me dizer que é uma questão de segurança, pois alvejar um helicóptero não é das tarefas mais fáceis desse mundo, muito menos se houver vários no ar fazendo a segurança.

Está no ar a campanha doe um helicópetero para o Zédu, quem sabe assim milhares de motoristas de toda Luanda não vão ter de ficar 3 horas parados no trânsito cada vez que ele e seus ministros resolvem sair pela cidade.

O trânsito da cidade que já catastrófico virou um verdadeiro inferno na última semana por conta do congresso do MPLA. Até ai tudo bem é uma vez por ano apenas. Mas ontem passou de todos os limites foram mais de 3 horas de trânsito completamente parado na Samba tudo para esperar a comitiva passar.

A Rocha Pinto que costuma ser a válvula de escape não escapou do congestionamento, ficou parada de ponta a ponta, ainda mais com as obras que ligaram o aeroporto à Samba (obra para turista ver no Can).

E tudo isso aconteceu em pleno horário de pico de manhã e a tarde também.

Ah! E já vou logo avisando aos anônimos de plantão que adoram aparecer em blogs alheios para dizer que se não estamos felizes melhor voltarmos para nossa casa. Não esqueçam que os mais prejudicados não são os expatriados e sim os próprios angolanos sejam eles de qualquer classe social.

Se tem uma coisa que é democrática em Angola é o trânsito, aqui não escapa ninguém. Seja no toyotinha capenga ou no Hummer tinindo de novo.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mama Muxima



Finanalmente depois de muito adiar tive a oportunidade de conhecer de perto o Santuário de Mama Muxima. O que era para ser apenas uma passagem rápida a caminho de Cabo Ledo acabou se tornando o destino do final de semana todo.

Quando me falavam de Mama Muxima imaginava uma igrejinha no meio do nada. Bem realmente é uma igrejinha no meio do nada, mas como esse nada é bonito.

A igreja fica as margens do Rio Kwanza protegida por uma bela fortaleza na colina, onde dizem foi construida a primeira capela para Mama Muxima.



O povo conta que certo dia alguém teve a idéia de retirar a santa da capelinha e levá-la para algum lugar mais povoado e que inexplicavelmente cada vez que tiravam a santa da capela ela voltava para o seu lugar misteriosamente.

O povo logo diagnosticou o Milagre e elegeu o local como Santo, os italianos vieram e construiram a atual igrejinha. Agora o Presidente quer transformar o local de peregrinação numa grande básilica aos moldes de Nossa Senhora de Fátima.



O projeto já foi aprovado e dizem a boca pequena que já está no Vaticano para aprovação do Papa. Apesar de isolado o lugar tem boa infra-estrutura, dois hotéis, restaurantes e um povo devoto e acolhedor.

A estrada que vem de Viana já está quase toda asfaltada e até já estão terminando uma enorme ponte para ficar no lugar da atual ponte flutuante, que apesar de torta tem dado conta do recado.



O local transmite uma paz incrível, sentada na porta da igreja observando os devotos que vem de vários cantos de Angola, pude ver que a fé em Mama Muxima é muito grande. Mulheres entram ajoelhadas na igreja a todo momento vão e vem da porta ao altar ajoelhadas, sem sapatos e com as mãos para cima rezando, pedindo, agradecendo numa espécie de transe religioso.

Dentro da Igreja a Imagem da Santa abençoando a todos que vem em busca de seus milagres.



Do lado de fora as crianças brincam e fazem festa, se dizem devotos da Santa, mas suspeito que ainda não saibam bem o que isso quer dizer. Pergunto a um deles o que ele veio pedir e ele responde “Uma namorada” de longe vejo uma garotinha me olhando com curiosidade e pergunto o que ela veio pedir: “inteligência e sabedoria”. É minha amiguinha acho que vc já é a mais sábia de todos nós.

A noite cai e as orações continuam. Uma mulher sai da igreja e fala que roubaram seus chinelos. Passa de lá pra cá repetindo que roubaram seus chinelos. De repente ela volta e roga a Mama Muxima: “Perdoe Mama por minha boca grande”.

Um grupo escondido num canto escuro reclama da pouca fé dos devotos. Uma senhora mais exaltada diz: “Aqui ninguém mais se ajoelha pra santa, vão andando em pé até a Santa como se fossem matar alguém”.



A nossa presença na porta da igreja chama a atenção tanto das crianças como dos devotos, não sei se por sermos os únicos brancos do local ou por nossas câmeras fotográficas que não cansam de clicar tudo e todos, ninguém acha ruim, pelo contrário muitos até pedem que tiremos fotografias para mostrarem como são devotos da Santa.

Uma menina no meio de tantas crianças que nos abordam chama a minha atenção, vestida toda de rosa, carapinha nos cabelos, brinca de subir e descer o muro que cerca a igreja, seu nome é Bibiana tem 6 anos e lado esquerdo do corpo todo queimado.

Pergunto o que foi que aconteceu e ela responde que seu irmão botou fogo nela com uma caixa de fósforos, quando tinha dois anos. Brincadeira de criança ou irresponsabilidade de adultos?



Depois do acidente Bibiana veio com a família morar na vila de Muxima, quem sabe uma suplica da mãe salvou a vida da filha e o milagre da Santa fez dela uma menina ativa e feliz.

Muitos peregrinos dormem espalhados pelas praças ao lado do santuário, montam as barracas, cozinham no chão e banham-se no rio.

São pessoas felizes com muita fé. Dona Leonilda e dona Virginia me vêm com a câmera e pedem que as fotografem. Muito alegre, dona Leonilda dança com um embrulho na cabeça pede para que eu não esqueça seu nome e para dizer pra todo mundo como são bonitas as devotas da Santa.



Dona Leonilda, agora todo mundo já sabe o quanto a senhora e sua fé são bonitas, ya?!

Todas as devotas andam com panos com a imagem da santa amarrados na cintura ou na cabeça. Muitas também usam camisetas estampando a sua fé. São poucos os homens que rezam a santa, são bem mais discretos.

Eu como boa budista, espirita, católica não perco a oportunidade de fazer minha oração e meu pedido a Mama Muxima, mas logo que entro na igreja uma das devotas me manda sair, pois estava com uma blusa que mostra os ombros.



Logo ela vem atrás de mim e pergunta se não tenho um pano, digo que não e ela me empresta o dela. Pronto, agora já posso entrar na capela e bater um papo com a Mama Muxima.

Muxima no dialeto local significa Coração.

Não há dúvidas que a santa faz milagres e o primeiro deles é trazer tanta paz a quem vai lhe visitar.