quinta-feira, 24 de abril de 2008

A dura realidade



Até hoje falei das coisas boas de Luanda, principalmente do por-do-dol que é lindo e cada dia de uma cor. Mas hoje vi muito de perto a realidade de mais de 70% da população de Luanda. O motorista que foi me pegar veio cortando caminho pelas musseques, mas por regiões que nem nos meus piores pesadelos eu poderia imaginar.

Não tenho fotos para mostrar, já que aqui não se pode fotografar a miséria e corre-se o risco de ficar sem camera.Ver mulheres carregando pesadas bacias com coisas na cabeça para vender, grávidas e com outro bebe amarrado nas costas é lugar comum em Angola, mas ver uma criança com deficiência mental acorrentada a uma roda é dificíl de digerir.

Ver lixo na rua é comum em Luanda, mas ver uma rua inteira cheia de lixo com crianças pequeninas brincando enquanto as galinha que logo vão virar janta se alimentam de lixo em putrefação, é difícil de processar.

Ver crianças magricelinhas é parte da paisagem, mas ver crianças carregando crianças nas costas com seus cabelos amarelados não é tão poético como as fotos podem parecer.

A primeira criança que eu vi com os cabelos amarelos eu achei que era blondor, talvez alguma moda maluca daqui, mas descobri que o amarelo dos cabelos é devido a desnutrição.

Mulheres cozinhando no chão em pequenas brasas de carvão, mulheres com latas de água na cabeça, mulheres com botijão de gás na cabeça, mulheres, mulheres...

Luanda é uma cidade machista e as mulheres dão um duro danado...

2 comentários:

Anônimo disse...

putz San, meus olhos encheram d'água... nossa, nem imagino como seja viver aí... q barra...

Migas disse...

Eu costumo dizer para alguns amigos que há coisas que contadas, ninguém acredita. Só mesmo vivendo. Essa imagem da criança acorrentada é triste demais. Acho que o que vi, que mais me chocou, aqui, foi um moço beber água do chão, como se se tratasse de um animal. Muito triste Sandra! E a dificuldade que eles têm em conseguir água potável é tremenda! Água, que é tão essencial neste país de calor!

Um dia, um angolano que trabalhava comigo e que tinha poliomielite perguntava-me o que acontecia com os deficientes ou desempregados em Portugal. E eu respondi que podiam ter um subsídio oferecido pelo governo. Ele respondeu: ah, angolano sofre. Se não trabalhar não come. E é verdade mesmo! Por isso o Duck estava lá.

Mas não te deprimas não, Sandra! No fundo, eles aprenderam a ser felizes (?) com o que têm. Apesar de uma vida dura, eles não deixam de se balançar, quando ouvem uma música! :o) Mas isso não implica que tudo pode continuar igual! Nem pensar!!

Beijos