segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Financial Times



Parece que o Can organizado em Angola para mostrar ao mundo o quão organizado e seguro o país está depois de anos de guerra cívil está saindo pela culatra.

Veja abaixo matéria publicada no Financial Times 1 dia após o encerramento do CAN.

01/02/2010 - 02h24
Contradições atrapalham o caminho de Angola até a prosperidade
Richard Lapper
Financial Times


Tem sido difícil para Teresa Antônio conter sua raiva. Nos dois últimos anos, a estudante de 20 anos tem tentado persuadir seus vizinhos a vacinar seus filhos e a usar redes contra mosquitos.

Isso é parte de um programa do governo para combater doenças que deram a um dos mais ricos países da África um dos mais altos índices de mortalidade infantil do mundo.

Mas tamanha é a letargia dos funcionários do setor de saúde e dos burocratas na cidade de Cacuaco, leste de Luanda, a desordenada capital de Angola, que Teresa começa a achar que seus esforços são inúteis.

“A enfermeira chega tarde, e há muitos atrasos”, ela reclama. “Se não houver uma melhora no serviço, não tem por que nos importarmos. Estamos realmente desmotivados.”

Sua experiência enfatiza as contradições de Angola. Petróleo abundante e seis anos de crescimento econômico de dois dígitos após uma longa guerra civil a tornaram um dos mais agitados mercados emergentes do mundo.

Nos últimos anos, com o apoio de financiamento chinês, o governo investiu bilhões de dólares em infraestrutura. Empresas de bens de consumo brasileiras, portuguesas e sul-africanas estão correndo para obter acesso a um mercado interno em ascensão.

Mas oito anos após o final de seu conflito civil de três décadas, a administração de Angola ainda está encontrando dificuldades para se livrar de sua reputação de país com altíssima corrupção e governo autocrata. Críticos dizem que a aprovação da semana passada de mudanças constitucionais, que na verdade adiarão as eleições presidenciais por mais três anos, fortalecerá o poder executivo.

José Eduardo dos Santos é o presidente desde 1979 – um dos líderes da África que por mais tempo governaram – e sua família vem juntando uma enorme fortuna desde então. A última eleição presidencial em 1992 terminou em caos e reiniciou a guerra civil.

Os críticos também condenam o dinheiro gasto em quatro estádios de futebol para receber a Copa Africana das Nações. Seu início, no começo deste mês, foi ofuscado por um ataque feito por guerrilhas separatistas na província de Cabinda, a um ônibus que levava a equipe de Togo, que matou três pessoas. Ele levou a uma repressão sobre opositores do governo e ativistas de direitos humanos.

Além de estradas e pontes, muitas das quais estão sendo construídas por empresas chinesas e brasileiras, Angola está construindo hospitais e escolas, e ampliando a rede hídrica. Enquanto um quinto de seu orçamento é encaminhado para a defesa e a segurança, mais de um terço está sendo destinado à saúde, à educação e outros setores sociais este ano.

Koen Vanormelingen, repesentante da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), diz que há “uma janela de oportunidade para conseguir acertar as coisas”. Mas ele diz ainda que uma das maiores dificuldades é uma escassez crônica de habilidades, citando novos hospitais que não podem abrir por falta de equipe treinada. “Eles estão fazendo a parte fácil: construir a infraestrutura. O difícil é elevar a qualidade dos serviços”.

Apesar de persistentes alegações de mau uso de fundos por uma elite política e empresarial, existem alguns indícios de renovação nas atitudes. As autoridades esperam atrair, por meio de subsídios, clínicas particulares para oferecerem serviços para os pobres. Nos últimos anos, centenas de médicos cubanos também vieram ao país. Oficiais também parecem estar interessados nos programas sociais do governo brasileiro, que reduziram a pobreza por meio de uma bolsa de auxílio que depende de frequência às escolas e aos programas de saúde.

Mas a experiência de Teresa Antônio sugere que o governo precisa atacar a burocracia e a incompetência também. Voluntários da área de saúde protestam que há quase um ano não recebem um salário mensal de $ 50, pago pelo governo da província.

Até os durões médicos cubanos estão achando a situação difícil. Karina, 36, cujo pai lutou junto com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) 23 anos atrás, admite que trabalhar em Angola é frustrante.

“É um país rico”, ela diz. “Mas eles [os angolanos] não sabem como tirar vantagem disso”.

5 comentários:

Anônimo disse...

Minha querida
Este email chegou assinado.
Mais um dos muitos que vou lendo.
Bjos
Massaroca




Desabafo de um Angolano



Aqui em Angola o mambo é assim, dão bandeira sempre no fim, Angola, Angolaaaa …
Aqui em Angola o mambo é assim, dão bandeira sempre no fim, Angola, Angolaaaa …
Aqui em Angola o mambo é assim, dão bandeira sempre no fim, Angola, Angolaaaa …



Agora falando de assuntos sérios.



Este CAN para mim é só mais uma demonstração do rumo que este país esta a tomar.

Em minha opinião poderíamos organizar um CAN sim mas não agora, nem nestas condições.



O que é que Angola quer mostrar ao mundo? Porquê que queremos mostrar aos estrangeiros que estamos a "subir" quando na verdade a vida do Angolano continua mal? O que é mais importante para o país?



Soube ontem que há sectores da função publica que ainda não receberam o 13° salário de 2009.



Luz e agua nem sequer na capital do Pais que organiza o CAN se consegue ter com regularidade. Construímos hotéis novos mas temos o Hotel Turismo , Meridien, Panorama a caírem aos pedaços.(não sei em que estado estão hoje)



Acompanhei pela TOPA a caravana da selecção quando se dirigia ao estádio, engarrafamento vergonhoso a 1 km do estádio. Nem acessos em condições para o estádio conseguimos criar.



O guarda redes do Togo é baleado em Cabinda, atravessa todo pais para ser atendido na África do Sul!! E os hospitais de Cabinda? e de Luanda? Não têm qualidade? Claro que não, a qualidade é apenas para os estádios e para os hotéis. Hospitais não fazem parte das prioridades, alias os Angolanos são tão especiais, que nem sequer ficam doentes!



Esta nossa mania de viver de ilusões e aparências quando é que vai terminar?



Vamos fazer festa com o CAN, grande show de inauguração, espectáculo nunca visto em África, estádio com sistema de iluminação 3X mais potente que o do Stade de France em St Dennis, etc, etc e bla, bla, bla.



Quando tudo acabar continuaremos com todos os nossos problemas que "não se podem resolver porque saímos agora de uma guerra", para organizar o CAN (não houve argumento de estarmos em paz há pouco tempo).



O terminal do Aeroporto 4 de Fev. foi restaurado para receber os visitantes na altura do CAN. Depois de décadas e décadas de reclamações de Angolanos que aquilo estava mal e precisava de ser melhorado. Parecia um problema sem solução, mas o facto é que por causa do CAN tivemos o Aeroporto reparado em 6 meses!! Afinal era possível !!



São apenas alguns exemplos que espelham o rumo ( ou desarrumo ) que este pais esta a tomar.



Mesmo que individualmente consigamos "nos safar" por conseguirmos meios de enriquecer através de business, esquemas, corrupção ou comissões, a nossa vida continuará medíocre. Porque nossa sociedade esta doente, não existe ordem!

m.Jo. disse...

Apesar dos aspectos negativos que relata, achei o texto do FT bastante carinhoso. É bom, porque muitas vezes são irônicos.

Yolanda Marixe disse...

A descriçao feita neste artigo é verdadeira...infelizmente em muitos aspectos.

Ai a nossa Angola...

Tem razão a pessoa do primeiro comentário...tanto mostramos aos outros e nada fazemos por nós.

Não foi só agora com o CAN..sempre que vem alguém visitar que lhes convenha impressionar há meios que até então eram impossíveis.

Isso sem falar na desigualdade social. Quem já tem continua a ganhar e quem nada tem tente a piorar.

Com tudo isso e muito mais é o nosso país e por ele temos que lutar. Não fazem eles, façamos nós. Reclamar entre paredes não nos ajuda em nada. Temos que nos fazer ouvir e mostrar que estamos dispostos a melhorar.

Vivi Bagiotto-Botton disse...

Tambem acho triste a situaçao. Sou brasilira e sabemos que em muitos lugares do Brasil ainda é assim tambem até hoje.

Uma coisa que me choca aqui em Angola é realmente a falta de regularidade e de unicidade nos serviços.

Como bem ilustra a reportagem, (atrasos da enfeirmeira). hà escolas que quase não tem aula o ano inteiro porque os professores nao comparecem. O salario é atrasado como bem disse o email do comentario anonimo, mas hâ muito funcionario, mesmo de base, que não da as caras. Nas repartiçoes publicas, as pessoas nunca estao.Sexta feira e segunda entao, nem vâ procurar alguem que nao encontrarà.

Nos hospitais, bancos, hotêis, restaurantes, supermercados, lojas cada dia as coisas funcionam de um jeito, parece que a regra muda todo dia. Até os preços mudan conforme o atendente.

Como fala a reportagem, sabemos que não houve investimento e treinamento na parte humana. Nao hà atenção devida à educaçao (de qualidade) e pensamos que poderia melhorar quando houver.


Por outro lado, fico imaginando a agressao que é para a populaçao, lhe exigir horarios e padroes,

Alem dos costumes diferentes e do calor, com os engarrafamentos para chegar mais ou menos na hora no trabalho cada cidadão tem que sair 2 horas antes de casa (isso se morar perto).

As vezes precisa esperar 3 ou 4 candongueiros cheios passarem ate chegar um que tenha lugar. Nas casas, sem agua, fica dificil se higienizar de manhã antes de sair, comer etc etc.

Como exigir um padrao que não hà estrutura na vida privada das pessoas para que elas o possam seguir?

Com preço das coisa então, como cubrir as necessidades basicas com o que se ganha?

Acho que no final os Angolanos ate fazem milagres. As pessoas se ajudam muito. Sao muito solidarios uns com os outros.


Nesse aspecto Angola està na frente de muitos paises (inclusive das cidades mais ricas do Brasil).
onde a lei da individualidade jà està instituida desde muito.

Anônimo disse...

oi estou indo a angola estou com dificldades de achar lugar para ficar, tinha tirado uma semana da minha viagem para conheer angola infelizmente as dificuldades para conseguir um hostel, e transporte me desmotivou agra passarei apenas 2 noites uma para chegar ao pais e a outra para sair do pais jah que meu voo é brasil angola angola brasil.
se puder me ajudar em alguma coisa vai o meu email guilhermeprfmg@hotmail.com
bjs