sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Huambo: muito mais do que marcas da guerra



Uma volta ao passado, é como a gente se sente ao entar em Huambo, prédios que desafiam as leis da física com seus pilares de sustentação completamente destrídos, casas totalmente devastadas por balas permanecem emoldurando o cenário de uma cidade que corre atrás do prejuízo e tenta se firmar como pólo turístico.



Fomos ao Huambo no feriado que antecede o aniversário da cidade. Huambo estava completamente lotada, todos os 3 hotéis, simples, mas confortáveis e bem localizados estavam lotados, pensões, guest houses e pulgueirinhos lotados. Huambo simplesmente não cabia dentro de si.



Tudo por conta das festividades do aniversário natalício de Agostinho Neto que é homenageado na praça principal da cidade em uma bela estátua onde o poeta soldado é reverenciado.



Mas a atração principal é a corrida de carros e motos que acontece todos os anos nas ruas da cidade. A população lota as ruas do circuito para acompanhar desde cedo os preparativos. Vem gente de todas as províncias, principalmente de Luanda.



Huambo é bem diferente de Luanda, o clima mais ameno, as pessoas mais cordeais e simpáticas, não tem trânsito. Até os oficiais da polícia nos tratam muito bem, perguntamos se podemos tirar fotos do quartel general do exército que está em ruinas repleto de marcas de bala nas suas paredes. A resposta foi um sorriso de aprovação seguido de um caloroso “Bom turismo”. Nunca houvi isso em Luanda.



A estrada de Luanda até Huambo está em boas condições, tirando um pequeno trecho entre Kibala e Waku Kavo que tem muitos buracos e é necessário prestar muita atenção. A viagem é longa, sem direito a posto “Graal” para um cafézinho. Mas o cenário compensa, muito verde, muitas montanhas, rios e plantações.

Ao contrário das estradas que ligam Luanda a Benguela ou Malanje, aqui o caminho inteiro é marcado por plantações, pequenas e grandes, pastos e muitas aldeiazinhas perdidas no caminho. Sinal de que Angola está mesmo a mudar e começa a se preparar para ser o novo “celeiro do mundo”.

Os arredores de Huambo é repleto de áreas com alto potêncial turístico, principalmente para quem gosta de aventura e esportes na natureza. Mas ainda falta muito para chegar lá.



Quando saímos da estrada principal os acessos são muito difícieis, as pessoas não sabem nos informar direito como chegar aos locais onde estão as principais atrações e nenhuma estrutura é encontrada.

A Serra do Moco é o ponto mais alto de Angola, mas a estrada é péssima, a ilha dos amores é descrita como um local paradisiaco, mas além de difícil acesso é longe.

Bailundo a alguns kilometros é divulgado como um dos lugares imperdíveis onde a tradição e a cultura é mantida ao lado de belezas estonteantes. O antido reino do planalto central resistiu bravamente a invasão colonial durante anos. Os antigos reis estão enterrados lá e são até hoje reverenciados em cerimônias especiais presididas pelo soba da cidade que é descendente direto do rei.

Mas a população não sabe muito bem nada do que acontece. É difícil encontrar alguém que diga onde estão as tão aclamadas belezas estonteates.



Mesmo com toda a falta de estrutura turística a viagem vale a pena, sair de Luanda e respirar ao ar puro das montanhas, conhecer pessoas simples e calorosas. Visitar o local onde a guerra foi mais sangrenta, ver de perto a história do país. A casa onde Jonas Savimbi morava, o quartel general da Unita.



Apesar de ser um passado triste, não deve ser esquecido, pelo contrário. Deve ser lembrado para que nunca mais se repita.